terça-feira, 24 de maio de 2011

Imagem e Pensamento: A idade Média

Imagem é Pensamento. Se algum autor conferiu como nunca à imagem a capacidade de expressar pensamento, esse autor foi Gilles Deleuze. Ao olharmos atentamente esta ilustração do séc. XVI, podíamos rapidamente dispensar todos os manuais de história sobre a idade média. Aqui encontra-se o retrato religioso, sociológico e imaginário da era medieval. Vejam no topo o imagenciamento canónico da religião. Os corpos ascéticos, dimensionalmente superiores ao homem comum medieval, são a marca inolvidável da repressão secular da religião, e, não menos obstante, da consumação de um dualismo contínuo entre cima-baixo, divino-rastejante. Abaixo, encontramos a vida quotidiana do homem comum medieval: o amor cortês, resquissos da pulsão da homossexualidade, outrora condenada e posteriormente tolerada (Le Goff e Truong, 2005: 35); as idas às tabernas, esse lugar mágico, de encontros e celebração, necessário ao homem medieval. Por fim, no fundo, encontramos um grupo de corpos homem-animal que dançam livremente de mãos dadas, circundando o muro exterior do invólucro social e religioso medieval. E porque encontramos a presença de um corpo animal libertino nas margens da esteira social e religiosa? Segundo Le Goff e Truong, «desenvolve-se na idade média um erotismo muito peculiar: o erotismo animal». E, nesse sentido,  o corpo «solta-se nas margens. Portanto, também o erotismo ilustra a tensão que atravessa a idade média e combate uma ideia tenaz, a de uma época hostil ao corpo» (ibid.: 84-85)

Referências Bibliográficas
Le Goff, Jacques e Truong, Nicholas (2005), Uma História do Corpo na Idade Média,Lisboa, Teorema.

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